Diferentes estados da alma na erraticidade
2. A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos
que circulam no Espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam,
moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos.
Independente da diversidade dos mundos, essas palavras de Jesus
também podem referir-se ao estado venturoso ou desgraçado do Espírito
na erraticidade. Conforme se ache este mais ou menos depurado e desprendido
dos laços materiais, variarão ao infinito o meio em que ele se
encontre, o aspecto das coisas, as sensações que experimente, as percepções
que tenha. Enquanto uns não se podem afastar da esfera onde viveram,
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outros se elevam e percorrem o Espaço e os mundos; enquanto alguns
Espíritos culpados erram nas trevas, os bem-aventurados gozam de resplendente
claridade e do espetáculo sublime do Infinito; finalmente, enquanto
o mau, atormentado de remorsos e pesares, muitas vezes insulado, sem
consolação, separado dos que constituíam objeto de suas afeições, pena sob
o guante dos sofrimentos morais, o justo, em convívio com aqueles a quem
ama, frui as delícias de uma felicidade indizível. Também nisso, portanto,
há muitas moradas, embora não circunscritas, nem localizadas.
Diferentes categorias de mundos habitados
3. Do ensino dado pelos Espíritos, resulta que muito diferentes umas
das outras são as condições dos mundos, quanto ao grau de adiantamento
ou de inferioridade dos seus habitantes. Entre eles há os em que estes últimos
são ainda inferiores aos da Terra, física e moralmente; outros, da mesma
categoria que o nosso; e outros que lhe são mais ou menos superiores
a todos os respeitos. Nos mundos inferiores, a existência é toda material,
reinam soberanas as paixões, sendo quase nula a vida moral. À medida que
esta se desenvolve, diminui a influência da matéria, de tal maneira que, nos
mundos mais adiantados, a vida é, por assim dizer, toda espiritual.
4. Nos mundos intermédios, misturam-se o bem e o mal, predominando
um ou outro, segundo o grau de adiantamento da maioria dos que
os habitam. Embora se não possa fazer, dos diversos mundos, uma classificação
absoluta, pode-se contudo, em virtude do estado em que se acham
e da destinação que trazem, tomando por base os matizes mais salientes,
dividi-los, de modo geral, como segue: mundos primitivos, destinados às
primeiras encarnações da alma humana; mundos de expiação e provas,
onde domina o mal; mundos de regeneração, nos quais as almas que ainda
têm o que expiar haurem novas forças, repousando das fadigas da luta;
mundos ditosos, onde o bem sobrepuja o mal; mundos celestes ou divinos,
habitações de Espíritos depurados, onde exclusivamente reina o bem. A
Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão por que
aí vive o homem a braços com tantas misérias.
5. Os Espíritos que encarnam em um mundo não se acham a ele
presos indefinidamente, nem nele atravessam todas as fases do progresso
que lhes cumpre realizar, para atingir a perfeição. Quando, em um mundo,
Há muitas moradas na casa de meu Pai
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eles alcançam o grau de adiantamento que esse mundo comporta, passam
para outro mais adiantado, e assim por diante, até que cheguem ao estado
de puros Espíritos. São outras tantas estações, em cada uma das quais se
lhes deparam elementos de progresso apropriados ao adiantamento que já
conquistaram. É-lhes uma recompensa ascenderem a um mundo de ordem
mais elevada, como é um castigo o prolongarem a sua permanência em um
mundo desgraçado, ou serem relegados para outro ainda mais infeliz do que
aquele a que se veem impedidos de voltar quando se obstinaram no mal.
Destinação da Terra. Causas das misérias humanas
6. Muitos se admiram de que na Terra haja tanta maldade e tantas
paixões grosseiras, tantas misérias e enfermidades de toda natureza, e daí
concluem que a espécie humana bem triste coisa é. Provém esse juízo do
acanhado ponto de vista em que se colocam os que o emitem e que lhes
dá uma falsa ideia do conjunto. Deve-se considerar que na Terra não está
a Humanidade toda, mas apenas uma pequena fração da Humanidade.
Com efeito, a espécie humana abrange todos os seres dotados de razão que
povoam os inúmeros orbes do Universo. Ora, que é a população da Terra,
em face da população total desses mundos? Muito menos que a de uma
aldeia, em confronto com a de um grande império. A situação material e
moral da Humanidade terrena nada tem que espante, desde que se leve em
conta a destinação da Terra e a natureza dos que a habitam.
7. Faria dos habitantes de uma grande cidade falsíssima ideia quem
os julgasse pela população dos seus quarteirões mais ínfimos e sórdidos.
Num hospital, ninguém vê senão doentes e estropiados; numa penitenciária,
veem-se reunidas todas as torpezas, todos os vícios; nas regiões
insalubres, os habitantes, em sua maioria, são pálidos, franzinos e enfermiços.
Pois bem: figure-se a Terra como um subúrbio, um hospital,
uma penitenciária, um sítio malsão, e ela é simultaneamente tudo isso,
e compreender-se-á por que as aflições sobrelevam aos gozos, porquanto
não se mandam para o hospital os que se acham com saúde, nem para as
casas de correção os que nenhum mal praticaram; nem os hospitais e as
casas de correção se podem ter por lugares de deleite.
Ora, assim como, numa cidade, a população não se encontra toda
nos hospitais ou nas prisões, também na Terra não está a Humanidade
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inteira. E, do mesmo modo que do hospital saem os que se curaram e da
prisão os que cumpriram suas penas, o homem deixa a Terra quando está
curado de suas enfermidades morais
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