quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Política e o Espiritismo



Política e o Espiritismo


Introdução


          O objetivo deste estudo é mostrar a contribuição que o Espiritismo pode oferecer aos homens públicos, no sentido de auxiliar-lhes a tomada de decisões. Para o fim proposto, faremos um resumo histórico das doutrinas políticas e analisaremos os problemas da ação política sob a ótica espírita.

Conceito de política


Significado de política

          Derivativo do grego politikós (polis), que significa tudo o que se refere à cidade, portanto, citadino, público, social.

          Na Idade Moderna o termo perdeu o seu significado original tendo sido substituído por expressões tais como “ciência do Estado”, ciência política”, “doutrina do Estado” e “Filosofia Política”.

          “O conceito de Política, entendido como forma de atividade ou de praxe humana, está intimamente ligado com o de poder. O poder foi definido tradicionalmente como algo que se “se baseia nos meios para obter uma vantagem” (Hobbes) ou analogamente como “o conjunto de meios que permitem obter efeitos desejados” (Russel). Um destes meios é o domínio sobre os outros homens”. (Bobbio, 1988, p. 21-36)

Natureza política

          A Política é, em certo sentido, a tomada de decisões através de meios públicos, em contraste com a tomada de decisões pessoais, adotadas particularmente pelo indivíduo, e com as decisões econômicas, geradas como resposta a influências impessoais, tais como o dinheiro, condições do mercado e escassez de recursos. Platão e Aristóteles fazem uma analogia com o “navio” para explicar a ação política. O timoneiro deveria cuidar do leme, do peso, da rota e dos tripulantes para que o mesmo não encalhe, não afunde e chegue ao seu destino. O mesmo se dá com o governante à frente de um Estado, isto é, deve conduzir homens aos ideais propostos.

          Observe que o Third New International Dictionary, de Webster, menciona que a palavra “govern” vem do frances antigo governer, derivada do latim gubernare (guiar, pilotar, governar) que por sua vez vem do grego kybernan. (Deutsch, 1988, p. 15-20)

Necessidade da política

          A política não é apenas uma atividade das instituições sociais, senão que se origina na própria essência da sociedade, independentemente de sua institucionalização. O bem comum, por sua vez, é a concepção milenar da função da Política dentro da sociedade, e a expressão clássica desta concepção está em Santo Tomás de Aquino, que, na sua Suma Teológica, escreve “Finis politica est urbanum bonum” — “A finalidade da política é o bem comum”. Não é religioso ou filosófico, mas social. (Franco, 1988, p. 9-14)

          Mas que é esse bem comum?

          Quem melhor o definiu foi o Papa João XXIII, nos seguintes dizeres: “O Bem comum consiste no conjunto de todas as condições da vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana”.

Resumo histórico


Antiguidade

          Nas Antigas civilizações orientais não houve verdadeira doutrina política; os grandes impérios asiáticos e o Egito não admitiam que aí pudesse haver forma de governo diferente da monarquia absoluta, exercida em nome do deus protetor da Nação. O que existia era a arte de governar, transmitida pelos reis aos seus escolhidos. Os escritos do Taoísmo, na China, servem como exemplo, quando diziam que governar é como fritar peixes pequeninos. (Mosca, 1987, cap. IV)

          A origem da Política como doutrina e forma de governo está relacionada com as idéias desenvolvidas por Platão (427-344 a. C.) e Aristóteles (384-322 a. C.). Platão descreve no livro República o estado ideal e indica as causas da decadência que fazem com que da cidade ideal, possa-se gradualmente chagar à tirania, isto é, à pior das formas de governo. Aristóteles começa por afirmar que o homem é um animal naturalmente social. Segundo ele, os dons que a natureza deus aos indivíduos só podem desabrochar através do contato social. (Mosca, 1987, cap. VII)

Idade Média

          Período que vai de 476 (queda do Império Romano) até 1453 (tomada de Constantinopla pelos turcos). “A principal característica da Idade Média, do ponto de vista político, é a confusão do direito privado e do direito público, do que resulta a que o proprietário ou o possuidor de um trato de terra acreditava-se investido de direitos soberanos sobre os habitantes dessa região”. (Mosca, 1987, p. 74)

          No campo intelectual havia ausência de espírito crítico e de senso histórico, inexistência do espírito de observação e respeito excessivo ao princípio de autoridade (Bíblia e Aristóteles). A ruptura desse modelo de pensamento político se dá com o aparecimento da obra de Maquiavel, o Príncipe, onde diz o que é a realidade (mostrando as falcatruas dos dirigentes) e não como ela deveria ser. (Mosca, cap. XI)

Idade Moderna e Contemporânea

          Período que se estende de 1453 aos nossos dias. A Idade Moderna representa a transição do Feudalismo ao Capitalismo Industrial. A instituição do Parlamentarismo na Inglaterra, a Revolução Francesa, o aparecimento do nacionalismo e do imperialismo são alguns dentre os muitos aspectos que caracterizam essa fase.

          Atualmente nota-se uma tendência à democracia na maioria dos países liberais. “Na pesquisa sobre liberdade no mundo de 1992, a organização Freedom House, de Nova Iorque, verificou que, pela primeira vez na História, a maioria dos países da Terra são democráticos. Das 171 nações pesquisadas, 89 eram democracias declaradas e 32 se encontravam em transição para a democracia”. (Jornal do Brasil, 1992)

Ação política


Teoria e práxis

          A questão da relação entre a Teoria e a Práxis, que por assim dizer foi fundada por Platão; foi ele talvez quem primeiro teve a consciência do problema. A questão aparece em Platão no livro A República, e justamente no famoso Livro VII da República, que é o livro em que existe uma famosa alegoria, o chamado “Mito da Caverna”. Ele propõe a seguinte questão: como podemos fundar a relação entre governantes e governados? Existe uma relação de obediência. Como justificar essa obediência? Onde encontrar elementos teóricos para legitimar uma relação de obediência?

         Na alegoria do “Mito da Caverna”, Platão coloca alguns homens numa caverna, de costas para a entrada, de modo que só conseguem ver as próprias sombras projetadas no fundo da mesma. Dentre esses homens, um deles (o filósofo) se vira e sai à procura da luz (conhecimento). Inteira-se dele e por, dever de consciência, obriga-se a passá-lo aos demais que lá ficaram. Acontece que se ele disser a verdade, será ridicularizado. Portanto, para evitar esse contratempo, cria o “mito”, a fim de que seja ouvido e obedecido. O filósofo, que é amante da verdade, tem de mentir e transforma-se mais em rei do que filósofo. A relação entre o real e o ideal é um problema por resolver e Platão joga-o para os séculos seguintes. (Ferraz, 1988, p. 39-48)

Filosofia e política Marxista

          Tanto os pensadores da Antigüidade quanto do da Idade Média davam ênfase ao Estado ideal e não ao Estado real. Karl Marx (1818-1883), filósofo materialista e criador do materialismo histórico diz que até aquela época os filósofos idealizaram o mundo, mas que chegara o momento de transformá-lo através da ação.

          Como procedeu Marx? Estudou a dialética idealista de Hegel (1770-1831) e a dialética materialista de Feuerbach (1775-1833). Observou a luta de classes na Inglaterra e o processo da Revolução Francesa. As conclusões levaram-no a criar o termo materialismo histórico, ou seja, a matéria é origem de tudo e o modo de produção é que determina a religião, a arte, a forma familiar etc.

          O materialismo histórico ou dialético pode ser resumido da seguinte forma: a luta de classes — escravos lutando contra os senhores numa sociedade escravagista levaria esta à sociedade feudalista; a luta dos vassalos contra os senhores feudais, levaria esta sociedade ao capitalismo; o proletariado, nesta sociedade, lutando contra os capitalistas levaria ao comunismo. O comunismo seria uma sociedade igualitária, onde não haveria a exploração do homem pelo homem. Em termos práticos, vimos a instituição do comunismo na Rússia e na China, países pré-capitalistas.

Ação política e espiritismo


Mudança comportamental

          Na alegoria do “Mito da Caverna”, Platão não consegue fazer com que o filósofo mudasse o comportamento dos homens que ficaram dentro da caverna. No Espiritismo, Kardec descortina-nos vários horizontes para a mudança do nosso comportamento, pois os ensinamentos contidos em O Livro dos Espíritos e O Evangelho Segundo o Espiritismo são um convite constante à melhoria de nossa conduta.

          Hábitos calcados nos automatismos negativos são estimulados a se transformarem em atitudes centradas na moral evangélica.

Tese marxista e espiritismo


Luta de classes

           O enfoque marxista da ação humana “induziria” o povo a pegar nas armas para conseguir uma situação mais igualitária da renda. No Espiritismo, vemos que a sociedade caminha para uma situação de maior igualdade de riqueza, quando trata dessa questão não pela “luta de classes”, mas por “classes de luta”, isto é, cada um dentro de sua classe tenta suplantar a si mesmo e auxiliar o próximo.

A felicidade

          “Para os marxistas a felicidade se encontra nos produtos materiais do trabalho da Terra, enquanto para os espíritas, além dos proventos da Terra, o trabalho proporciona também os de evolução espiritual. Por isso não basta dar trabalho ao homem, sendo também necessário dar-lhe educação moral, ou seja, orientação espiritual para que ele possa tirar do trabalho todos os proventos que este lhe possa dar”. (Kardec, 1995, p.267)

Riqueza e poder

          A maioria de nós gosta de possuir muitos bens e ter domínio sobre os demais homens. Mas de acordo com as instruções dos Espíritos “A autoridade, da mesma forma que a fortuna, é uma delegação da qual serão pedidas contas àquele que dela se acha investido; não creiais que lhe seja dada para lhe proporcionar o vão prazer de comandar, nem, assim como crêem falsamente a maioria dos poderosos da Terra, como um direito, uma propriedade”. (Kardec, 1984, p. 229) Deus as dá como prova ou missão e as retira quando lhe apraz.

Aristocracia intelecto-moral


          As sociedades em tempo algum prescindem de chefes para se organizarem. Daí a necessidade da autoridade. Esta autoridade vem se modificando ao longo do tempo. No início tínhamos a força bruta, depois a do exército. Na idade Média, a autoridade de Nascença. Segue-se-lhe a influência do dinheiro e da inteligência, na época atual. Será o fim? Não. Segundo Allan Kardec, em Obras Póstumas, há que se implantar a aristocracia intelecto-moral.

          Aristocracia, vem do grego aristos, melhor, e kratos, poder. Poder dos melhores. Quando isso efetivamente se der, os homens que detêm o poder saberão que estão investidos de uma missão e que serão cobrados pelo bom ou mal uso que fizerem de tal mister.

Conclusão

          Os princípios codificados por Allan Kardec nos auxiliarão eficazmente nas resoluções de ordem política, porque substituirá os impulsos antigos automatizados no egoísmo pelos novos que serão automatizados na fraternidade universal, dando uma nova força à inteligência, porque a “moral do Cristo”, indicará o rumo certo que a inteligência deverá seguir, quando o nosso planeta adquirir o equilíbrio entre o fator moral e o intelectual.

          Acreditamos que os governantes, quando a moral for o fator mais importante em todas as resoluções, não mais irão buscar os seus interesses mesquinhos, mas, acima de tudo, deverão aplicar amplamente a noção de “bem comum” propiciando sob todos os meios possíveis a felicidade da maioria.


Fonte: http://www.ceismael.com.br/artigo/politica-e-espiritismo.htm 
(Sérgio Biagi Gregório)

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Sempre é muito bom para crianças ter atenção e carinho!!!

Equipe do GAFA


Festa de Dia das Crianças nas Comunidades Vila Nova Galvão e Jardim Elisa Maria


Sempre é muito bom para crianças ter atenção e carinho!



          Vivemos mais um dia alegre em nossas comunidades junto aos nossos pequenos, que transmitem em seus olhinhos e sorrisos, alegria e prazer por serem abraçados com ternura, guloseimas e brincadeiras. Mas nos sentimos muito mais felizes por saber que tudo isso fará profunda diferença sempre para melhor na formação de seus ideais futuros, pois, humanos como todos nós, guardarão em suas mentes todo calor do carinho que receberam dos tios e das tias, e transformarão em pontos positivos e herança construtiva, futuramente transmitirão a outras crianças tudo de bom que receberam formando um verdadeiro elo de amor que perpetuará por muitas gerações.

“Plantar uma boa semente sempre, mas a terra fértil deverá ser sempre preparada por mãos generosas”.

A.Dias


Distribuição de refrigerantes e cestas básicas

Brincadeiras com as crianças e mães

Brincadeiras e pinturas nas crianças

Filas em frente a sede do GAFA!

Equipe do GAFA


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Uma lição de Solidariedade




Primeiramente assistam a este curto vídeo:

Solidariedade


          Pela rua da vida, no espaço comum a todos transitamos, seres humanos, pessoas que vem e vão em busca de algo. Nos encontramos todos os dias, muitos ainda não se perceberam e não entenderam que é necessário estar presente diante dos fatos reais, e jamais só ideais de interesses que só dizem respeito a si.

          Passamos a limpo na literatura riscos e contas, para amanhã sempre pagar os juros da falta de reais objetivos e direção.

          Atribuímos ao suposto e incutido valor transcendente as responsabilidades por tudo que nos acomete e arremete às perdas e insucessos. E vivemos sempre assim, sem causas, somente dos efeitos que sempre são sentidos e percebidos, sempre...só depois.

          Porque apenas sonhar só para si?

          Porque buscar sem mãos?

          Porque ir sem direção?

          Porque plantar sem sementes?

          Pois a única direção que planifica é partilhar...

         Nunca dentro de um mundo inverossímil da fé fictícia e interesses apenas sugeridos e criados para levar massas adiante, em sentido do dia a dia, sem passos consistentes para a porta da consciência real e plena do despertar, criando apenas o nada.

          Por quê? Quem sempre menos tem é quem mais sinaliza olhar em direção ao outro? Mas um coração bom e generoso sempre encontramos em mãos abastadas, aliás, como também um sorriso terno e cativante, um abraço e um aperto de mão, uma proximidade, palavras de esperança para selar mais um gesto solidário.

         As praças...

          As ruas...

          No tempo...

          Sempre estaremos...

          Porque, viver é o único sentido real.

          E partilhar solidariedade com seres humanos,

          É dar à nossa alma o único caminho

          Que nos fará gestar no universo real

          E viver para sempre...

A.Dias

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A história de São Francisco de Assis



Neste próximo dia 04 de Outubro comemora-se o Dia de São Francisco de Assis, que dá nome a Instituição GAFA (Grupo de Apoio Fraternidade e Amor Francisco de Assis), no qual trabalho com assistência social. Encontramos um belo texto sobre a história deste ser iluminado, boa leitura!
       
          A linda simplicidade da cidade de Assis ainda hoje conserva a mesma arquitetura das construções, que se erguem sobre uma colina de onde se avistam vastos campos de girassóis em flor, de quando João - o Evangelista, discípulo amado do Mestre Jesus - retornou ao vaso de carne em 1181 - e recebeu o nome dado por seu pai de Francesco em homenagem aos franceses que este admirava e com os quais exercia um rendoso comércio.

           Seu pai chamava-se Pedro Bernadone que empreendia freqüentes viagens à França e lá adquiria boas partidas de pano para cardar, tosar e cortar; transportava-as para sua terra e comerciava em franca prosperidade.

          Durante uma de suas viagens a França, a esposa, Joana Picá de Bourlemont, que ficara grávida e já se aproximava dos últimos dias causou grande consternação geral na cidade por ser por todos muito querida, relata-nos Frei Câncio Berri-OFM, em seu livro "Vida de São Francisco de Assis" o seguinte fato:

"Durante quatro dias, seu estado era de morte. A casa enche-se de gente. Todos querem saber dela.
Eis senão quando aparece um peregrino, que ninguém antes vira em Assis. Penetra no quarto da doente, e diz, claramente, aos circunstantes: "Leve-se a senhora a uma estrebaria, onde há de nascer-lhe o filhinho entre palhas e será colocado numa manjedoura. Segui o meu conselho se quereis salvá-la. E desapareceu.

          Admirados, logo a transportaram para o estábulo vizinho, e lá , de fato como por encanto, veio ao mundo gracioso menino, que descansaram sobre o feno. A mãe viu-se salva do iminente risco de morte".

          Sem consentimento do marido, a mãe levou o pequenino à pia batismal da igreja católica e lhe deu o nome de João.

- Muito vulgar o nome que deste ao nosso filho, - disse Bernadone ao chegar da França - e acrescentou: ora, João! Meu filho não é um Joãozinho qualquer, não. Venho da França onde fiz um excelente negócio por isso ele se chamará Francesco.

          E assim foi mudado o nome de João para Francisco que crescia e se fortalecia em espírito.

          Francisco constantemente sonhava com visões celestiais que lhe despertavam no espírito sentimentos crescentes de fraternidade e justiça, atualizando todo o potencial espiritual que ele era portador.

          O objetivo de seu pai era fazer dele um esperto mercador, já sua mãe desejava exatamente o oposto, sempre mentalmente dizia: "Ele será uma alma de Deus".

          Entrementes, Francisco era visitado em sonhos e visões por seres celestes que lhe despertavam os verdadeiros sentimentos de fraternidade.

          Para não aborrecer seu pai que sempre se irritava quando o via em preces e recolhimento combinou com sua mãe que iria levar uma vida normal de rapaz. Francisco então começou a freqüentar a sociedade, dançava, tocava alude, declamava, fazia versos, cortejava as moças e todos tinham grande prazer e alegria com sua presença e o chamavam de "flor dos jovens".

          Pedro Bernadone, feliz, abria a bolsa para seu filho gastar à vontade e dizia-lhe:
"Agora, sim, podes também gastar com seus pobres!"

          Francisco contava então dezessete anos. Observando os cavaleiros com suas armaduras luzidias, sentados eretos nas selas dos animais, se encantava e desejava também ser um deles.

          Em uma noite acordou soluçando e sua mãe aflita acorreu, indagando o que estava acontecendo, se ele estava doente.

"“Não mãe – respondeu – não estou doente, apenas em sonho me vi na Palestina, no meio de pessoas aflitas e doentes que me pediam a cura e me chamavam de "Cavaleiro de Cristo".

          Francisco ainda não se apercebera da grande missão que o aguardava e ingressou como voluntário para ir combater os invasores do Condado de Assis.

          Era o ano de 1198 quando na guerra entre Assis e Perugia, Assis foi derrotada e caiu em poder dos perugianos. Entre os muitos prisioneiros estava o jovem Francisco Bernadone que juntamente com os demais foi conduzido a Perugia.

          Foi encarcerado em prisão especial em decorrência dos seus ares de nobre, juntamente com os da alta nobreza.

          Ficou prisioneiro dos dezenove aos vinte anos.

          Ao voltar a Assis ouviu um comentário que estavam sendo convocados rapazes para defender os direitos da Igreja na Apulia. Seriam tornados cavaleiros.

          Francisco sentiu chegada a hora de realizar seu sonho de ser um cavaleiro e mais do que depressa comunicou a seus pais, que não se opuseram.

          Seria a oportunidade de ser um herói e ganhar o título de nobre.

          Mandou preparar o enxoval completo de cavaleiro, armadura luzidia, elmo, lança, arreios de prata para o animal.

          Na véspera da partida da tropa que se dirigiria para Apulia, Francisco foi avisado de que um seu companheiro de armas, nobre de Assis de nome Lucius Gallo, não participaria da expedição por ter perdido sua fortuna que fora confiscada, e por isso, não tinha condições de adquirir uma armadura. Tendo Francisco duas armaduras, cedeu a mais bela e melhor a seu amigo.

          Nesta noite Francisco teve um sonho:

- Francisco, dá-me a tua mão e segue-me – disse um belo e formoso espírito.

- Com todo respeito, senhor.

- Quê vês, amado filho?

- Um palácio cheio de escudos, estandartes, troféus, armaduras, lanças e tudo mais, próprio a militares e guerreiros.

- Sabes a quem pertence tudo isso, inclusive o palácio?

- Não tenho a menor idéia.

- Tudo isso é teu, amado filho – respondeu uma voz misteriosa.

          O sonho se dissipou e Francisco despertou imensamente alegre; seria não somente cavaleiro, mas chefe de cavaleiros; daí para a nobreza seria apenas um passo.

          Francisco ao chegar a Spoleto foi acometido de grave enfermidade que o impediu a seguir para Apulia.

          Durante a febre alta, um mensageiro encarregado de preparar Francisco para a missão com a qual havia se comprometido antes de reencarnar, fez-se ouvir:

- Francisco, quem te pode tornar melhor, o senhor ou o servo?

- O senhor – responde Francisco.

- Então por que deixas o senhor pelo servo e o príncipe pelo vassalo?

- Ó senhor, que queres que eu faça? – responde com o coração palpitante.

- Retorna a Assis e lá te será dito o que terás de fazer. Deverás entender o sonho de outro modo.

          Seu corpo fremia e o suor banhava-lhe as vestes o leito. Numa sucessão de idéias lembrou as lições evangélicas que sua mãe lhe ensinava. Uma visão de Damasco lhe apareceu e a palavra do Cristo a Paulo se fez ouvir: "Saulo, Saulo, por que me persegues? "...

- Ó não, eu não persigo ninguém, antes procuro os pobres e sinto misericórdia por eles! Ah! Sim, bem me lembro, a luz que apareceu a Paulo e disse: "Eu sou Jesus".

- Jesus? Jesus? – gritou – acaso, estás aqui, Jesus?

- Volta, anjo bom que me apareceste em sonho e dize-me, por caridade que devo fazer. Estou confuso...

"Levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que convém fazer" – escutou.

- Quem falou? Onde está quem falou? Por que não me aparece?

          Neste momento, os bons espíritos que o assistiam, ministram-lhe passes magnéticos de recomposição de forças e energia, Francisco sente a respiração voltar ao normal e a febre entra em declínio.
Francisco não conseguiu conciliar o sono naquela noite. No dia seguinte abandou a expedição e retornou para Assis.

          Os que o viram voltar abatido e absorto, nos pensamentos que tumultuavam sua mente, começaram a criticá-lo afirmando que ele era um menino rico e cheio de caprichos. Tal, porém, não era a verdade.

- Que aconteceu filho querido? Dize-me depressa, por que voltaste? – pergunta-lhe a mãe cheia de cuidados.

          Com os olhos lacrimejantes, Francisco nada respondeu.

- Expulsaram-te das fileiras de Gualter de Briene? Não te querem mais como soldado de Frederico?

- " Retorna a Assis e lá te será dito o que terás de fazer... deverás entender de outro modo o sonho que tiveste"... Foi o que escutei quando acometido de forte febre e que me fez voltar...

- Sonho? Tiveste um sonho, meu filho e por causa disto estás tão mudado?

          Francisco contou então em detalhes tudo o que viveu e sua mãe lembrou da profecia que fizera para o mesmo: "Ele será um alma de Deus"!

          Após a guerra que se abateu sobre Assis, a cidade apresentava um quadro desolador: ruas sujas e mal cuidadas em abandono, grupo de mendigos atirados nos desvãos dos caminhos suplicando por esmolas.

          Nobres e ricas damas da alta sociedade misturando-se com eles e atendendo-os em suas necessidades mais frementes, entre eles um se destacava: Francisco que ao socorrê-los, conjeturava - " Devo servir ao Cristo através da pobreza? Será que tenho suficiente coragem de renunciar a tudo?"

          Seus pais ausentaram-se em um determinado dia a fim de assistir uma missa fúnebre na Igreja de São Damião. Francisco começou a ouvir um vozerio que vinha da rua, e pareceu escutar seu nome.

          Correu a janela, e surpreso avistou um grupo de mais de cem famintos que suplicavam, lhe dessem pão.

          Desceu e pediu que o seguissem até uma panificação onde comprou-lhes pão , que comeram até se fartarem.

          Em outra ocasião ao se deparar com um mendigo que suplicava por esmolas, pediu-lhe que trocasse sua roupas limpas e ricas com as dele e vestiu-se com os trajes andrajosos e mal cheirosos do pobre homem.

          Ele que sempre estava acostumado a dar, quis sentir na própria carne o que representava a humildade de pedir, e ficou sentado esmolando, no final do dia distribuiu com os outros mendigos o que recebera. Um dos mendigos observando-o, comentou que ele não parecia ser um deles, este mendigo era paralítico. Francisco condoendo-se falou-lhe:

- Se tiveres fé, podes obter a cura agora mesmo.

          O mendigo soltou uma gargalhada. Olhou fixamente para Francisco que o fitava ternamente e desabou a chorar. Francisco colocou a mão suavemente na cabeça do homem e balbuciou: "Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz".

          E o mendigo ficando curado, saiu saltitando de alegria, anunciado a todos que encontrara um santo que o curou.

          Francisco desapareceu rapidamente, misturando-se com os peregrinos.

          Francisco constantemente se dirigia a uma igrejinha de São Damião, muito pobre perto de Assis, ali orava e depois ao sair do templo ficava sentado na escadaria contemplando o Subásio, com suas montanhas azuis. Os pássaros se acercavam dele, vindo aos bandos e, em torno de Francisco, ficavam revoando.

          Numa destas ocasiões em suas orações suplicou mais uma vez ao Pai que lhe mostrasse o caminho que devia seguir e ouviu:

" Não vês que minha casa ameaça ruir? Vai, pois, e a repara".

          Francisco no mesmo momento contemplou a igrejinha de São Damião, que de tão velha ameaçava a ruir. Não atinando de imediato que a casa que o Senhor e referia era a Sua Doutrina, respondeu:

“Fa-lo-ei Senhor, de bom grado".

          Então começou uma série de providências para conseguir recursos a fim de restaurar o velho templo.Tirou várias peças de lã de ótima qualidade do armazém de seu pai e foi ao mercado de Foligno. Conseguiu vender tudo a bom preço. Vendeu inclusive seu belo cavalo branco.
Com a bolsa farta dirigiu-se à Igreja de São Damião e entregou ao pároco:

          "Toma para restaurar a igreja. Deixa-me ficar contigo e começaremos logo o trabalho".

- Francisco seu pai é um homem iracundo. Não quero saber de brigas com ele e por vossa culpa. Este dinheiro lhe pertence, não o tocarei.

- Nem eu – e jogou dinheiro aos pés do padre – não voltarei para casa, ficarei morando aqui.

          Como era de esperar-se Pedro Bernardone não concordou com a extravagância de seu filho e foi direto à igreja munido de um chicote para reaver o dinheiro. O encontrou ainda jogado na escadaria da igreja, recuperando-o voltou menos irado para sua casa.

          Francisco escondeu-se em uma gruta nos fundo da igreja e aí ficou por trinta dias. A mãe conhecendo seu paradeiro, todos os dias mandava-lhe alimentos e pedia ao Padre que conservasse seu filho escondido.

          Ao fim deste período lembrando-se da voz que lhe disse:"Cavaleiro de Cristo, tens medo?"

- saiu da gruta e tomou caminho de Assis.

          Sua vestes estavam reduzidas a trapos, pés descalços, parecia não mais um rico mancebo e sim um mendigo.

          A molecada ao vê-lo, lhe atirava maçãs podres, gritando:"Olha o doido , o filho de Pedro Bernardone!"

          Francisco foi arrancado à força da multidão pelo pai que o levou para casa e prendeu-o em uma masmorra, a pão e água, acorrentado.

          Quando seu pai viajou para França sua mãe o libertou.

          Ao retornar ao procurá-lo sua mulher lhe disse que o libertara e lhe dera suficiente dinheiro para não passar necessidades.

          Seu pai decidiu apelar para as autoridades a fim de trazê-lo de volta, pois ele se abrigara na Igreja de são Damião.

          Essas autoridades não o conseguiram, pois ele afirmou diante delas, que agora era um servo de Deus.

          Inconformado, seu pai apelou para o bispado. Diante do bispo, Francisco cedeu e foi.

          Foi levado ao tribunal eclesiástico, onde seu pai iria reivindicar a apropriação indébita de bens de família, e acusá-lo de expor seu nome ao ridículo perante a sociedade de Assis.

          Ao escutar a acusação feita por seu pai, Francisco a passos o lentos recolhe-se a um aposento contíguo durante poucos minutos, e volta ao tribunal com suas vestes materiais nas mãos e o resto do dinheiro dado por sua mãe.

          Neste momento em que seu corpo nu se transforma em uma coluna de luz, nasce o Francisco de Assis noivo da "Dama Pobreza" e morre o Francisco Bernadonne, era abril de 1207 e ele contava 25 anos.

          À partir desse episódio Francisco começa realmente seu apostolado.

          Compreende mais tarde que a igreja, que a voz o concitava reformar, era a doutrina do Cristo que estava sendo totalmente desvirtuada por aqueles que pretendiam representá-Lo na Terra.

          Em 4 de outubro de 1226 ,Francisco retorna ao mundo espiritual deixando-nos com sua santa vida um lastro de luz.


          Muitos lindos episódios são contados sobre a vida de Francisco de Assis e para deles tomar conhecimento recomendo a leitura do livro De Francisco de Assis para você, escrito por Humberto Leite de Araújo.